Escrever é eterno treino. A imortalidade digital é apenas sondar o abismo. Até que se ascenda nas buscas, que se mercantilizem as palavras, a vida da escrita é o escancarar da própria morte… apenas dados nos infindáveis territórios de um mundo intangível. É treino mesmo que cada palavra se premedite como se fosse a última. Um treino que não cessa à competição, ao confronto, ao texto publicado.
Mas é esgrima? Sempre, pois não é para todos. Quantos podem, no funil financeiro, continuar antes que as contas acumuladas não se sobreponham a tal atividade raramente remunerada? Precisa investir em anúncios, mas com qual recurso? Esgrima é para quem pode bancar os custos do esporte.
O mais difícil para o escritor não é escrever um livro, mas sim achar quem leia. Não, sejam alguns parentes, amigos próximos, o completo desconhecido que recebe um exemplar doado por acumular poeira na estante de vendas não realizadas… leitores são poucos, mas não faltam. Difícil mesmo é pagar boletos com versos.
Uma esgrima de gravetos contra canhões, tentar parar um furação abanando as mãos, fumar uma maço de cigarros por dia esperando saúde… e lidar com a depressão que torna tudo ainda mais impossível, e lidar com a euforia de cada nova tentativa antes da futura ressaca. Quando saí um bom texto, embriagado e leve se encontra um autor, mas se os textos bons param a densidade se multiplica durante a queda. Existe uma tóxica relação entre a escrita e a pós-escrita.
E como vive um escritor? Atacando os canhões pelos flancos na esperança de ao menos arranhar as tinturas, em uma esgrima de gravetos conta as máquinas brutais que constituem uma sociedade com pouco espaço para leitura. Mesmo assim, vive rindo, pela dança na qual seu corpo finge ser esporte aquilo que é, essencialmente, arte.