A Torre de Marfim, pela tomada popular do direito à palavra, caiu em ruinas. Ao menos a ocupada por poetas, seres tidos como exotéricos, exóticos, estranhos. O rap é o responsável, mas não originou a primeira rachadura. Essa veio pelas milenares vozes dos oprimidos no decorrer da história. O capitalismo, visando o utilitarismo laboral da palavra, tornou a alfabetização quase universal e, como resposta, alguns poetas se originaram de forma combativa ao arauto do saber. Mas qual saber? Sendo a palavra escrita um secular privilégio, a ideologia que justifica os maus hábitos do topo da torre, todo o saber histórico que edificou o distanciamento com a realidade é justamente aquele que, nas páginas ainda em branco do futuro, devem ser destronados. A possibilidade de saber jamais deveria se constituir como privilégio e seria mais salutar reconhecer o que se sabe além das letras escritas. Poetas iletrados como Leonardo Bastião e Pedro Tenório, não são exceção e, no seu fazer, dizem mais sobre as habilidades originais do poema que uma coletânea de Olavo Bilac, entre muitos outros. A torre de marfim é mais que um distanciamento, uma completa alienação das vozes do mundo.
Sendo o fazer literário, necessariamente, diálogo, quanto da erudição sobrevive ao pesar de sua palavra no lado da balança que não se encontra a multidão? A alienação sublimada surge justamente da falta de equilíbrio de poucos contra muitos. É somente nela que a farsa de uma estética apolítica se perpetua. Toda Estética é política, pois toda forma é dialogo ou, nos maléficos vícios do topo da torre, discurso. Assim como uma arquitetura pode se constituir enquanto agressão a parte da população, a escrita também encontra, tanto em forma como conteúdo, a capacidade de afetar os espaços intelectivos. O que lemos, o que pensamos sobre o que lemos, só não é resultado desta alienação quando nos propomos a árdua pesquisa sobre o submundo literário, na busca daqueles que não possuem hegemonia de discurso… uma luta contra a imortalidade seletiva, contra a mortalidade silenciada.
Das ruínas da Torre de Marfim, não podemos erguer novo monumento. É contra a mobilização de uma Babel intelectiva que, na mais vasta leitura e escrita, devemos nos direcionar.